domingo, 24 de novembro de 2013

Elen Janine Teixeira Palhano Ortiz


­­­­­­24 anos, enfermeira e musicista. Trabalha no Projeto Social Acorde com Arte/ Orchestrarium. Nascida em Jaguari (RS), depois de morar em várias cidades, mudou-se para Santa Maria em 2002 para estudar no Colégio Militar e acompanhar seu irmão mais velho na cidade.

“Conheci a JuNF através do convite da Geanine pelo facebook, e tenho acompanhado desde o início as atividades, apesar de nos últimos dias estar ausente. Me sinto identificada e representada na JuNF, e já pude rever muitos conceitos e pré-conceitos que me acompanham. Mas o mais interessante é que é possível perceber que nós, enquanto negras, mulheres e jovens, de distintas formações e filosofias, podemos SIM nos tornar mais fortes através desse grupo e das discussões propostas.”

“No futuro espero estar mais presente nas atividades da JuNF. E quanto aos meus planos pessoais, desejo estudar mais sobre música para poder trabalhar com a arte do canto coral de grupos negros.”

“Me sinto orgulhosa e vencedora em ser mulher negra. Muitos lutam e não conseguem força/apoio suficiente para seguir em frente, e desistem, acabam deixando seus sonhos e seus ideais, em virtude das dificuldades e desafios que encontram no caminho. A grande maioria das mulheres negras, no Brasil, não conseguiram terminar o ensino médio. São as mulheres negras e jovens que estão mudando essa história, ingressando no ensino superior, planejando suas carreiras, conquistando espaço e buscando uma história diferente das suas antepassadas.”

Cite um caso de racismo que você sofreu e como você se sentiu:

“Uma das situações mais chocantes foi ano passado. Eu estava na cidade de Ivorá, na rodoviária, esperando o ônibus para retornar a Santa Maria, depois de um dia de trabalho. Havia ali uma senhora branca, de aproximadamente uns 60 anos, e uma senhora negra, que devia passar dos 80 anos. A senhora NEGRA olhou para mim e me perguntou se eu era a ‘secretária’ da senhora branca. Respondi que não. Ainda insatisfeita com minha resposta, perguntou à outra Senhora, se eu era sua secretária. Ela também negou. Naquele momento eu fiquei paralisada. É muito comum esperar uma atitude como essa de pessoas não negras. Mas não foi o que aconteceu ali.Demorei um certo tempo para entender que aquela senhora negra deve ter vivido em um tempo em que negro só servia para ser “secretários e serviçais”, mão de obra escrava.”

Poderia citar um exemplo de resposta e até mesmo de denuncia a esse episódio sofrido?

Com sinceridade, eu acredito que essa senhora precisaria ter a sua autoestima trabalhada. Demorei para constatar isso, mas ela certamente tem uma autoestima tão prejudicada pelo sistema que ela se enxerga do modo como os seus exploradores desejam. E trabalhar a autoestima dela e dialogar sobre suas vivencias seria muito mais do que uma resposta ou denuncia. Seria um resgate, pessoal e coletivo. E também um aprendizado.”


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Beijos!



terça-feira, 19 de novembro de 2013

Jéssica Machado da Silva

22 anos, estudante  de Ciências Econômicas da UFSM, trabalha na empresa júnior Acej e é Bolsista na Reitoria, natural de Santa Maria.

"Conheci pelo convite para integrar o grupo da JuNF no Facebook. É ótimo poder conversar e debater as demandas e dificuldades vividas por nós mulheres negras. É um grupo onde sabemos que vamos ser bem acolhidas, e eu me sinto assim."

"No momento só tenho certeza que quero me formar. Mas quero fazer outra faculdade, talvez jornalismo, ou relações internacionais... não sei!"

  • Como você se sente sendo mulher negra e enfrentando todos os dias a tríplice discriminação de raça/gênero/classe?

 "Antes era mais difícil, pois certas coisas nossos pais não nos ensinam, e muito menos a escola, que é onde mais sofremos preconceito.  A conciência que tenho agora sobre todas essas questões racial/gênero/classe, aprendi com o tempo e com pessoas que passam pelas mesmas situações que eu. Mas para me aceitar do jeito que eu sou, preta, cabelo crespo, nariz grande... tive que me transformar. Hoje tenho muito orgulho do que sou, e como eu nasci e me acho linda DESSE JEITO."

"Bom, acho que sofremos racismo quase todos os dias, pois quase sempre temos tratamento diferente das pessoas brancas que habitam o mesmo ambiente, as pessoas sempre dão um jeito de lembrar que você é preta.
Bom, mas o que mais me marcou foi na escola. Não lembro qual era a discussão na sala de aula, estava conversando com uma colega, mas provavelmente deveria ser sobre preconceito, a aula estava bem disperça. Então, em meio a tanto falatório, uma colega fala em aaalto e bom tom: - Eu não gosto de preto. Confesso que eu me fiz de louca, que não tinha ouvido. Mas ela repetiu, do mesmo jeito, até todos se calarem e olharem pra ela, e logo depois pra mim, que era a única negra.
Ela disse mais alguma coisa, que não vou lembrar. Claro eu me senti mto mal, constrangida, todos estavam me olhando esperando uma reação. E eu disse: - Problema dela. Fiz uma cara de indiferença.
A professora ficou tão chocada quanto eu e disse: - Você não pode ser assim. Não lembro do resto.
Mas ficou por isso, todos levaram aquilo como se não fosse nada grave, inclusive eu, que ainda continue falando com ela.
E ali morreu o assunto. Não pra mim, é claro.
O interessante dessa menina racista, é que ela tinha o mesmo padrão de vida que o meu, morava na periferia, freqüentava as mesmas “festas de preto” que nem eu, tinha tantos amigos negros quanto eu, e sempre falou comigo normalmente. Até hoje eu não entendo. Minha teoria é que a família, de origem alemã, passo isso pra ela, não sei.
Vou excluir ela do meu facebook logo depois que eu terminar de responder o questionário."

"Na época eu deveria ter ido até a diretoria e denunciado esse ato de racismo. E a professora deveria ter dado uma resposta muito mais educativa pra ela. O que não ia acontecer, pq a maioria dos professores não sabe falar sobre racismo em sala de aula, e nem querem. E é claro, eu deveria ter dado uma resposta melhor. Mas provavelmente eu não tinha uma resposta melhor do que aquela, ainda era muito alienada."


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sábado, 16 de novembro de 2013

Dandara de Magalhães Santos

25 anos, fonoaudióloga pela prefeitura de Panambi, natural de Santa Maria.

"Fui adicionada ao grupo do Facebook (não lembro por quem, creio que pela Geanine)."

  • Quais são suas perspectivas para o futuro? 

Creio que algo quase utópico, mas uma sociedade mais igualitária em todos os sentidos (sociais, raciais, etc). E ser tratada como mulher sem minha cor ser mais relevante.

  • Como você se sente sendo mulher negra e enfrentando todos os dias a tríplice discriminação de raça/gênero/classe? 

Pergunta difícil de responder escrita, iria falar por horas, tentar resumir: cada obstáculo que passo em minha vida serve para eu me fortalecer, encaro como aprendizado para situações futuras. Ultimamente tenho sofrido mais é na questão amorosa, digamos assim,, pela minha cor não sou levada a sério, sinto que me tratam com certo menosprezo (me refiro a pessoas que estejam no meu atual círculo social e status de vida), para andar de mãos dadas não sirvo, esse obstáculo tem sido difícil de relevar, faz sofrer um pouco, mas não me deixa de sorrir nem desistir de encontrar alguém legal um dia.

  • Cite um caso de racismo que você sofreu e como você se sentiu: 

Não me lembro de nenhum forte no momento, se sofri não foi explícito e não percebi. O que acontece muito de forma sutil é o olhar das pessoas quando vou em algum lugar mais elitizado e quando digo minha profissão, só que ouço muito: tu é muito simpática, tu é muito bonita; o que parece me absolver de ser negra.  

  • Poderia citar um exemplo de resposta e até mesmo de denuncia a esse episódio sofrido?   

No momento não. 



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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Julia Rosalina Lopes de Sousa


21 anos, estudante de Psicologia – UFSM, natural de Porto Alegre.

"Conheci a JuNF através de um grupo no facebook que, na época, era aberto. Quando olhei quem fazia parte desse grupo, percebi que eram meninas que eu via no meu antigo colégio, na Universidade, na rua, em diversos locais, mas que poucas vezes (para não dizer nunca) conversei. Com esse grupo eu pensei que poderíamos trocar informações sobre questões que perpassam a negritude, principalmente sendo jovem e mulher, e estava certa."

"Minha perspectiva para o futuro está relacionada à minha carreira profissional. Formo-me como Psicóloga pela UFSM e pretendo fazer uma especialização para, além de poder me sustentar e sustentar minha filha, poder ter maior propriedade sobre meu trabalho."

"Ser mulher negra na nossa sociedade não é fácil, pois além de enfrentarmos o machismo, enfrentamos o racismo que, infelizmente, no nosso país é muito forte. Junto a isso, não podemos esquecer que grande parte da população negra ocupa classes sociais mais baixas e ocorre uma discriminação de gênero, de raça e de classe. Não sou rica, mas tive oportunidade de estudar em escola particular, fazer cursos, viagens que ajudaram na minha formação, e sei que são poucos negros que conseguem ter essas oportunidades e ocupar esses espaços majoritariamente brancos. Aos poucos me fui me empoderando, me aceitando como sou, com meus lábios e testa grandes, meu nariz chato, com meu cabelo que é bom e lindo, mesmo o racismo dizendo que não. Aos poucos fui percebendo que me assumir como mulher negra não era só uma questão estética, mas uma questão política, de não querer sempre ser submetida a estereótipos, a uma anulação em diversos setores da sociedade."

"O racismo existe e está no discurso que não é questionado, na piada que todo mundo conhece, na atitude que muitos têm. Conhecemos muitos casos de racismo que são denunciados ou que passam “de boca em boca” e achamos que nunca acontecerá conosco até o dia que nos flagramos no meio de um caso.
O meu aconteceu no final de 2009, ou início de 2010. Um amigo queria me apresentar um grupo de amigos dele, e já havia falado muito de como eles eram legais, interessantes, divertidos e tinham assuntos legais de se conversar. Esse meu amigo também disse que o filho de um deles era “um pouco racista”, mas na época eu não acreditei, pois julgava isso como algo que não existisse mais e que as escolas e os pais trabalhariam isso com as crianças. Ficamos adiando esse encontro devido às aulas e trabalhos de ambos até que em uma bela noite eu os conheci. O grupo era sim muito divertido, diverso, interessante e muito comunicativo, e sim, tinha a criança “meio racista”, de mais ou menos oito anos, que me falaram. Constatei isso quando fiquei sozinha com ela, e ela pode então perguntar se eu era amiga de Fulano. Respondi que sim, que éramos muito amigos e perguntei se ela tinha amigos no colégio. A resposta foi “sim, tenho amigos no colégio, e também tem meninas pretas lá, mas eu não converso delas”. Perguntei o motivo e ouvi “por que são pretas!” e ficou me olhando. Encarei de volta a criança e disse que o que ela estava fazendo era uma discriminação, que era errado julgar uma pessoa pela cor de pele, pela idade ou por qualquer outra razão sem conhecê-la. A criança concordou comigo.
Quando essa criança de oito anos me disse que não gostava de alguém por ser negro/negra eu fiquei espantada e preocupada. Espantada por que eu não sabia como falar com uma criança de que o que ela dizia e fazia é racismo, que esse não gostar justifica muito crime contra a população negra, além de estereotipa-la como sendo feio, indigno, e empregado. Que não conversar com meninas pretas reforçava o discurso implícito que elas não são tão belas quanto as brancas, que casais interraciais não devem existir, que a negra é objeto de uso. Preocupada por que essa criança não aprendeu isso da noite para o dia, essa ideia de que não podia conversar com negros/negras foi reforçado, seja pela família ou pela escola, por exemplo. Isso me deixou pensando na questão de como o racismo, assim como o machismo e a homofobia, são vistos, como que ocorre o combate a esses preconceitos e como deixar claro para uma criança (e muitos adultos) que não é só uma brincadeira, é racismo, que não é só uma opinião, é racismo.
Algumas pessoas do grupo acabaram mudando de cidade, outras trabalham ou estudam muito e acabaram não se reunindo mais. Consequentemente eu não vi mais a criança, mas lembro dela, pois foi ela que me alertou que o racismo ainda existe e que muitas vezes não é questionado."

"Na época do caso que relatei, eu não me questionei tanto quanto me questiono hoje. Eu não falei para os pais dessa criança o que ela me disse, por exemplo. Poderia ter dito os motivos do meu espanto e preocupação para os pais, pois eles teriam capacidade de entender, diferentemente de falar para a criança esses argumentos. Como foi uma criança que se mostrou racista para mim, eu não poderia denunciá-la, então penso que a melhor maneira seria ter falado com os pais."


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