domingo, 10 de novembro de 2013

Flávia Nascimento De Souza Luiz

17 anos, estudante do 2º Ano do Ensino Médio, natural da cidade de Santa Maria. 

“Conheci o grupo através do Facebook, apesar do tempo que me impede de comparecer as reuniões, eu me sinto muito bem de ficar por dentro das pautas e discussões sofridas dentro do grupo.”

 “Quero crescer dentro do mundo da moda, fazer alguns cursos dentro dessa temática para que possa sempre crescer. Fazer minha faculdade de Design moda, melhorar meus desenhos e tornar real minha primeira coleção exclusiva baseada nas mulheres da África.”

 “Me sinto forte, e de certa forma com uma responsabilidade maior em cima de mim, por ser mulher negra. O que me mantém em pé e com coragem pra seguir é meu pai que desde pequena me ensinou que a minha determinação e vontade de ser o que quiser não implica na cor da minha pele.”

  •  Cite um caso de racismo que você sofreu e como você se sentiu: 
 "Quando eu tinha 6 anos, meus pais me colocaram na escola Municipal Duque de Caxias, onde fiz minha 1 série. Eu conhecia apenas uma menina (que estava na 7 série), filha de uma amiga da minha mãe, nós sempre brincávamos juntas. Meus pais nunca tiveram muito dinheiro, e isso sempre nos afetou economicamente. Quando íamos ao mercado, sempre que dava, eles compravam iogurte de morango pra eu levar de lanche, pois era meu favorito, e sempre o máximo que podiam gastar comigo. Essa única menina que eu conhecia na escola, só falava comigo quando as amigas dela não iam ao colégio, quando elas iam eu ficava sozinha. Certo dia chegando atrasada na escola vi todas elas sentadas no pátio(eram 4), dei um oi e corri para o banheiro apertada, chegando lá larguei minha merenda no chão do banheiro e fui fazer meu xixi, então eu ouvi a porta trancando e alguém pegando minha lancheira por debaixo da porta e rindo, falando alto, reconhecia a voz da amiguinha de infância dizendo ”Aah, a neguinha é toda patricinha, metidinha a rica burguesinha, traz iogurtezinho pro colégio. A sujinha não come comida de pobre, acha que é melhor que nós!” uma outra dizia: “eu quero esse iogurte, vamos tomar tudo!”. Lembro que elas jogavam minha lancheira de um lado para o outro e que eu chorava muito... Até que a diretora chegou e mandou parar, minha mãe foi chamada, porém nada além aconteceu, minha mãe fez a diretora e as meninas me pedirem desculpas, por consideração a mãe da garota ela resolveu não processar a família nem as outras garotas. E depois disso, a burguesinha aqui nunca mais estudou em escola pública-municipal. Não sei como eles pagaram escola particular pra mim durante 7 anos, mas eu agradeço a eles.” 

“Sofri muitos outros, mas esse foi responsável pela minha não saída de sala de aula por um bom tempo. E mesmo mudando de colégio, até a 6 série eu sempre chorava nas apresentações para os colegas no primeiro dia de aula.”

 “O mais recente foi na casa de uma senhora que minha madrinha cuidava, minha madrinha morava lá, e essa senhora era muito preconceituosa, notava que ela nunca ia para o mesmo lado que eu. A noite ela brigou com minha madrinha questionando o porque eu estava ali, perguntando se eu não tinha casa pra estar enfiada na dela. Minha madrinha me disse pra deixar passar, e eu escutei. Pela manhã ela estava sentada na sala e eu cheguei, dei bom dia e sentei no sofá, minha madrinha e eu ficamos conversando, até que ela intervém dizendo: ‘MANDA ESSA MACACA SAIR DO MEU SOFÁ, NÃO QUERO QUE ELE APODREÇA, SAI DA MINHA CASA CRIOLINHA!’ aquilo doeu, doeu mais ainda porque pensei que já soubesse lidar com aquele tipo de situação, mas eu não sabia.” 

  • Poderia citar um exemplo de resposta e até mesmo de denuncia a esse episódio sofrido?
 “Eu não sei como reagiria na época, nem se me daria bem respondendo hoje, porque normalmente eu costumo sendo muito frágil em relação a isso até hoje, pode parecer bobagem que eu com 17 anos ainda chore quando alguém me ofende por ser negra. Mas é verdade.”


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Beijos

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