terça-feira, 19 de novembro de 2013

Jéssica Machado da Silva

22 anos, estudante  de Ciências Econômicas da UFSM, trabalha na empresa júnior Acej e é Bolsista na Reitoria, natural de Santa Maria.

"Conheci pelo convite para integrar o grupo da JuNF no Facebook. É ótimo poder conversar e debater as demandas e dificuldades vividas por nós mulheres negras. É um grupo onde sabemos que vamos ser bem acolhidas, e eu me sinto assim."

"No momento só tenho certeza que quero me formar. Mas quero fazer outra faculdade, talvez jornalismo, ou relações internacionais... não sei!"

  • Como você se sente sendo mulher negra e enfrentando todos os dias a tríplice discriminação de raça/gênero/classe?

 "Antes era mais difícil, pois certas coisas nossos pais não nos ensinam, e muito menos a escola, que é onde mais sofremos preconceito.  A conciência que tenho agora sobre todas essas questões racial/gênero/classe, aprendi com o tempo e com pessoas que passam pelas mesmas situações que eu. Mas para me aceitar do jeito que eu sou, preta, cabelo crespo, nariz grande... tive que me transformar. Hoje tenho muito orgulho do que sou, e como eu nasci e me acho linda DESSE JEITO."

"Bom, acho que sofremos racismo quase todos os dias, pois quase sempre temos tratamento diferente das pessoas brancas que habitam o mesmo ambiente, as pessoas sempre dão um jeito de lembrar que você é preta.
Bom, mas o que mais me marcou foi na escola. Não lembro qual era a discussão na sala de aula, estava conversando com uma colega, mas provavelmente deveria ser sobre preconceito, a aula estava bem disperça. Então, em meio a tanto falatório, uma colega fala em aaalto e bom tom: - Eu não gosto de preto. Confesso que eu me fiz de louca, que não tinha ouvido. Mas ela repetiu, do mesmo jeito, até todos se calarem e olharem pra ela, e logo depois pra mim, que era a única negra.
Ela disse mais alguma coisa, que não vou lembrar. Claro eu me senti mto mal, constrangida, todos estavam me olhando esperando uma reação. E eu disse: - Problema dela. Fiz uma cara de indiferença.
A professora ficou tão chocada quanto eu e disse: - Você não pode ser assim. Não lembro do resto.
Mas ficou por isso, todos levaram aquilo como se não fosse nada grave, inclusive eu, que ainda continue falando com ela.
E ali morreu o assunto. Não pra mim, é claro.
O interessante dessa menina racista, é que ela tinha o mesmo padrão de vida que o meu, morava na periferia, freqüentava as mesmas “festas de preto” que nem eu, tinha tantos amigos negros quanto eu, e sempre falou comigo normalmente. Até hoje eu não entendo. Minha teoria é que a família, de origem alemã, passo isso pra ela, não sei.
Vou excluir ela do meu facebook logo depois que eu terminar de responder o questionário."

"Na época eu deveria ter ido até a diretoria e denunciado esse ato de racismo. E a professora deveria ter dado uma resposta muito mais educativa pra ela. O que não ia acontecer, pq a maioria dos professores não sabe falar sobre racismo em sala de aula, e nem querem. E é claro, eu deveria ter dado uma resposta melhor. Mas provavelmente eu não tinha uma resposta melhor do que aquela, ainda era muito alienada."


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Beijos!

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